"Animais são criaturas, não propriedade humana, nem utensílios, nem recursos ou bens, mas sim preciosos seres na visão de Deus...
Rev. Andrew Linzey

28 de março de 2020

O CORONAVÍRUS É UMA EMERGÊNCIA GLOBAL, MAS A PECUÁRIA TAMBÉM TRAZ GRANDES RISCOS PARA A SAÚDE PÚBLICA



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O CORONAVÍRUS É UMA EMERGÊNCIA GLOBAL, MAS A PECUÁRIA TAMBÉM TRAZ GRANDES RISCOS PARA A SAÚDE PÚBLICA

Na China e em todo o mundo, a indignação popular com aqueles que comem espécies silvestres e exóticas está no auge, e as autoridades chinesas estão tomando providências para remediar essa situação devido à pressão mundial.
Este mês, os líderes da Assembléia Nacional – nome atribuído ao conselho do Parlamento da China – anunciaram a decisão de proibir o comércio de animais selvagens e exóticos. Uma escolha por ora temporária, mas que deve evoluir para uma lei no país nos próximos meses. Sabe-se que em algumas áreas da China é costume comer carne de cães e gatos, e a Animal Equality inclusive já lançou investigações sobre esse tema no território Chinês.
Mas não é apenas a carne de cães e gatos que é consumida. Cobras, tartarugas, sapos e insetos também são vendidos vivos no “Mercado Molhado”, onde ocorrem verdadeiras atrocidades contra os animais.
A atual emergência sanitária que estamos enfrentando no mundo devido ao coronavírus parece, portanto, estar relacionada ao consumo de carne de animais silvestres e exóticos na China.

Resistência à antibióticos, uma ameaça à saúde global

Segundo a Organização Mundial da Saúde, trata-se de  “uma das maiores ameaças à saúde global”. Mas o que é de fato a resistência à antibióticos? Grosso modo, é o fenômeno no qual algumas bactérias estão desenvolvendo alguma resistência aos antibióticos que usamos para nos tratar. O que isso significa? Significa que, em um futuro não muito distante, poderemos ter – e em parte já o temos – bactérias que não seremos capazes de curar, porque elas são completamente resistentes aos antibióticos.
A resistência antibiótica é um grande problema, uma vez que estes remédios desempenham um papel fundamental na vida moderna e principalmente na medicina. Eles são usados ​​não apenas para neutralizar bactérias, mas também para prevenir o aparecimento de infecções: por exemplo, nas operações cirúrgicas que vão desde uma extração de um dente até um transplante de coração. Todas as operações, devido à crescente adaptabilidade das bactérias aos antibióticos, podem se tornar muito mais perigosas do que são agora.
A preocupação é bem fundamentada: 700 mil pessoas morrem todos os anos de infecções resistentes a antibióticos, mas o número aumentará para 10 milhões por ano em 2050 se nenhuma medida eficaz for tomada (dados da OMS, 2019). 
De acordo com um relatório do Greenpeace, em 2010, os cinco países com o maior consumo de antibióticos na produção animal eram a China (23%), os Estados Unidos (13%), o Brasil (9%), a Índia (3%) e a Alemanha (3%). 

Mas por que as bactérias se tornam resistentes aos antibióticos?

A criação intensiva de animais de produção é uma das principais causas da resistência a antibióticos.


Existem quatro formas dos antibióticos serem ministrados aos animais. A primeira, a mais simples de entender, é a forma terapêutica. Os animais que ficam doentes recebem antibióticos como forma de tratamento para matar as bactérias que a causam a doença – da mesma forma que nós humanos também fazemos quando ficamos doentes – com prazo (geralmente curto, de poucos dias) e dose determinada.
A segunda forma é chamada de tratamento metafilático. Quando um animal de produção fica doente é praticamente certo que todos os que estão alojados com ele também fiquem, pois a imunidade desses animais geralmente está comprometida devido ao estresse e às condições de higiene das instalações que são precárias. Assim, devido ao risco de que vários animais fiquem enfermos, com chances de elevada mortalidade, faz-se um tratamento grupal. 
A Terceira forma é a preventiva, quando os animais não estão doentes, mas podem ficar em decorrência de algum acontecimento que está por vir. Por exemplo, quando desmama-se os leitões, eles tendem a sofrer com problemas gastrointestinais e/ou pulmonares decorrente principalmente pelo estresse gerado pela separação da mãe. Assim, antes do desmame é recomendado o uso de antibióticos para prevenir infecções que sabidamente ocorrerão. 
A quarta forma de utilização dos antibióticos, e a mais problemática, é o seu uso como promotor de crescimento. Promotor de crescimento é uma expressão que se refere à utilização de antibióticos na criação de animais a fim de que eles aproveitem de modo mais eficiente tudo o que comem e cresçam mais rápido, para que possam ser abatidos em menor tempo. No entanto, a constante exposição dos animais a esses medicamentos pode levar à seleção de bactérias resistente aos antibióticos. Nesta modalidade, o antibiótico é misturado à ração em pequenas doses e diariamente por praticamente toda a vida do animal. Oferecer pequenas doses de antibióticos rotineiramente aos animais é uma das formas mais perigosas de cultivar bactérias resistentes, as superbactérias, que muitas vezes não podem ser controladas mesmo com uso de múltiplos medicamentos. Resumidamente, os produtores dão diariamente um pequena dose de antibióticos aos animais que estão saudáveis, para que esses animais cresçam mais rápido e assim gere mais lucro para o produtor. Medida que , no entanto, colabora para a resistência aos antibióticos, colocando em risco a saúde dos animais e da população. 
Vendo todas essas formas de uso de antibióticos em animais e levando em consideração a enorme quantidade de animais criados para consumo, fica fácil entender porque a produção intensiva de animais usa tanto antibiótico, sendo apontada como umas das principais causadoras da resistência bacteriana aos antibióticos. 
Portanto, devido ao aumento no número e na densidade da criação de animais para consumo, os antibióticos se tornaram uma ferramenta usada pela indústria da carne para manter os animais vivos

Como as bactérias resistentes a antibióticos são transmitidas?

A transmissão de bactérias resistentes a antibióticos da indústria da carne para as pessoas é mais simples do que parece. Ela ocorre por meio das carcaças dos animais, dos sistemas de ventilação das fazendas e dos resíduos que acabam sendo despejados perto das fazendas e na natureza ao redor. Até o transporte de animais da fazenda para o abatedouro contribui com a disseminação de superbactérias, e os trabalhadores também estão expostos ao risco de contraí-las. De todas essas formas, as bactérias super-resistentes criadas pelo uso maciço de antibióticos chegam à população humana, tornando-se uma séria ameaça à saúde de todos.
Assim, medicamentos importantes, como os antibióticos, poderão deixar de ter efeito  aumentando consideravelmente a taxa de mortalidade por infecções

O que a história nos ensina?

Mesmo olhando apenas para o período mais recente, podemos observar que a pecuária intensiva oculta um grande componente de risco à saúde pública. A maneira como “amontoamos” milhares de animais e os usamos para produzir alimentos nos expôs a doenças muito graves, prejudiciais tanto para nós quanto para os animais.
Cerca de 70% das novas doenças que infectam os seres humanos têm origem animal, alerta a ONU. O coronavírus é apenas uma das doenças terríveis que, de alguma forma, provém do hábito de consumir animais, sejam silvestres e exóticos ou de produção.

O que podemos fazer?

Parece claro que o crescimento exponencial do consumo intensivo de produtos de origem animal nos expôs cada vez mais a riscos à saúde global. No entanto, alguns são ainda mais preocupantes do que aqueles que já parecem tão dramáticos hoje em dia, como o Coronavírus. Esses riscos estão de fato emergindo nos últimos anos e ainda não atingiram sua máxima nocividade, como o fenômeno da resistência aos antibióticos, que, lembre-se, a OMS acredita que será “uma das maiores ameaças à saúde global”.
O que podemos fazer agora para evitar essa catástrofe? A resposta está sempre em fazer escolhas importantes e conscientes, como a de mudar nosso consumo eliminando ou reduzindo ao máximo o consumo de produtos de origem animal, mesmo em nível pessoal. Hoje, mais do que nunca, podemos dizer que as nossas escolhas alimentares – como indivíduos e como grupo – têm um enorme impacto na vida não só dos animais, mas também na saúde das pessoas e no futuro de todo o planeta.

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